A Universidade é, para mim, por princípio, mais que uma escola, no sentido restrito, como meio de adquirir conhecimento técnico ou científico. Não! A Universidade é, a meu ver, muito mais que isso: É uma experiência científica e académica de excelência; é uma experiência social, na medida em que é na escola que encontramos, geralmente, os melhores amigos; é uma experiência de carácter, porque é na escola que vamos encontrar pessoas de todos os géneros. No fundo, é uma experiência de vida, que agrega tantos momentos importantes na vida pessoal, académica e profissional de cada um, que marca fortemente quem passa na Academia.
Ora, este é o meu entendimento do que é (ou devia ser) a experiência académica. Infelizmente, a percepção que vou construindo é que o estudante do ensino superior português está cada vez mais alheado da realidade da Academia.
Está alheado porque participa cada vez menos no associativismo estudantil e nem sequer dá muita importância ao assunto; está alheado, porque com Bolonha e a consequente maior carga curricular em menos semestres, passa muito menos tempo na faculdade ou escola superior; está alheado porque, tirando raras e louváveis excepções, as tradições académicas mais significativas vão-se perdendo (e para isso contribui a luta do Sr. Ministro da Ciência, que de Ensino Superior não tem nada).
Posto isto, feito o diagnóstico há que pensar em formas de dar vida à Universidade Portuguesa. E o que é dar vida à universidade? É motivar e mobilizar o corpo de estudantes de cada instituição para as causas da escola; é promover a participação nas sedes em que se pode mudar algo; é sentir a escola como uma segunda casa, em que a família é constituída pelos nossos pares.
Chegados aqui, o que fazer?
O primeiro passo tem de ser dado pelas associações de estudantes, na qualidade de legítimos representantes dos seus pares. Há que aproximar as estruturas e os dirigentes dos colegas e promover a participação através dos meios de discussão sobre as áreas estratégicas da actividade estudantil. É essencial que os estudantes sintam que têm nos seus representantes um meio para chegar aos órgãos de gestão da escola e alguém sempre disponível para ouvir e levar os seus problemas às sedes próprias.
Também os próprios órgãos das escolas têm um papel importante a desempenhar, em especial, o Conselho Pedagógico. Os corpos dirigentes têm de ter a capacidade de ouvir os alunos e, sobretudo, a vontade e a pró-actividade de ir ao encontro das necessidades diagnosticadas. Com mais e melhores canais de comunicação, as direcções estão mais habilitadas a agir no interesse daqueles que dão sentido às instituições, os alunos. Por isso mesmo, há que valorizar o trabalho dos conselheiros pedagógicos e dos demais representantes do corpo estudantil, nas diversas sedes, responsabilizando-os, também, pelas posições assumidas e pelas consequências que delas advêm.
Noutra perspectiva, os próprios movimentos internos das escolas, sejam as tunas, sejam as tertúlias académicas ou os núcleos de estudantes que se formam! Estes também são parte activa da Academia e devem ser dínamos da vivacidade das instituições, actuando na sua esfera de actividade, com respeito às tradições e aos valores de cada escola.
Por fim, e porventura mais importante, os próprios alunos! Nada disto faz sentido sem um corpo estudantil verdadeiramente activo e consciente das suas responsabilidades. Todos nós estamos no ensino superior para tirar o nosso curso e iniciar uma carreira profissional que desejamos bem sucedida, mas conciliar esse objectivo principal com uma maior vida académica é possível e, digo eu, profundamente enriquecedor.
É o apelo que deixo, a todos os que integram a Academia: Um apelo de participação, que venho fazendo há muito tempo. Tudo em nome de melhores escolas e, consequentemente, em nome de um melhor ensino superior e de um futuro mais risonho para este nosso país!
Publicado em RGA - Expresso Online