Vox Patriae

Outubro 04 2010

O Ensino Superior português conhece, hoje, muitos e importantes desafios. Desde o financiamento e acção social aos modelos de governação das instituições muitas são as temáticas que são discutidas por estes dias. Matérias que, recentemente, estiveram em debate em Roma, na conferência internacional “Europe Through Students Eyes”, promovida pela rede UNICA, em que participaram a Universidade de Lisboa e a Universidade Nova de Lisboa, através das suas federações académicas. Uma conferência em que se falou desde a mobilidade ao papel das universidades na sociedade contemporânea, passado pelo novo paradigma das universidades verdes. Uma experiência única para quem teve, como eu, a oportunidade de participar e dar um pouco de si para os trabalhos de um colóquio em que foi redigida e divulgada a Declaração de Roma.

 

Com efeito, a internacionalização das instituições de ensino superior, nas suas diversas vertentes, assume-se como um relativamente novo desafio, um campo onde ainda há muito que percorrer e muito trabalho para ser feito: a questão dos ECTS e do seu reconhecimento; as plataformas de comunicação entre universidades europeias; a cooperação coordenada com países fora da Europa; os programas de mobilidade e a concertação das instituições no reconhecimento de créditos e cadeiras feitas ao seu abrigo… Um campo muito vasto de matérias que começam a surgir a uma velocidade alucinante e que requerem, além de muito trabalho, uma rápida adaptação das estruturas representativas dos estudantes e das próprias lideranças das instituições. Hoje, aos desafios internos / nacionais juntam-se os novos desafios internacionais e à Universidade do séc. XXI exige-se a vontade e a capacidade de os enfrentar com confiança.

 

Por outro lado, se a internacionalização surge como um autêntico desafio em que muito há por fazer; por essa mesma razão assume-se como uma enorme oportunidade para as instituições. A Academia cultiva o conhecimento e, por essa via, não conhece fronteiras. E se a Academia não conhece fronteiras, porque vão as Universidades conhecer? Um espaço europeu de ensino superior, com plena mobilidade de estudantes, professores e investigadores, com plataformas de comunicação estreitas, com programas de cooperação concertados, com ligação ao mercado de trabalho à escala continental. São metas ambiciosas, mas nunca inatingíveis. Arrisco-me afirmar que basta vontade das lideranças e uma profunda reflexão ao nível europeu para chegar a estratégias sólidas para o alcance destes muitos objectivos.

 

Não quero deixar de sublinhar, também, que no decorrer da conferência da UNICA pude constatar que a comunidade académica portuguesa esteve representada ao mais alto nível. Em todos os fóruns e painéis foram dirigentes portugueses que se destacaram e assumiram, com naturalidade, liderança nos debates. Num país que muitas vezes se pauta pelo pessimismo, fiquei orgulhoso de pertencer a uma geração de estudantes / dirigentes que conhecem a fundo a realidade das suas instituições e do seu país, que são ambiciosos nas metas que traçam para a Europa e que, mais importante, têm propostas estratégicas para as alcançar. Se considerarmos que este tipo de iniciativas ganha um teor quase para-diplomático, atrevo-me afirmar que a representação nacional esteve nas melhores mãos.

 

Não posso deixar de concluir, desta forma, que se são muitos os desafios que se apresentam ao Ensino Superior português no que diz respeito à sua internacionalização, são também significativas as oportunidades que surgem num campo onde quase tudo pode ser construído de raiz. Permito-me, até, considerar, que não nos faltam recursos para enfrentar esses desafios e agarrar essas oportunidades, sobretudo recursos humanos. Basta motivar e dinamizar. Os estudantes já mostraram que estão disponíveis para esse esforço e, mais importante, que têm vontade e capacidade para o protagonizar.

 

Publicado em RGA - Expresso Online

publicado por André S. Machado às 21:44

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